Antes da pandemia colocar estudantes e professores em aulas on-line, o Consórcio Pró Educação, que reúne a Agenda Pública, a Engie (Tractebel) e a Herkenhoff & Prattes (H&P), com recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), deu vida ao Sistema Educacional Interativo (SEI) na Seduc Pará. E os bons resultados mostram quão urgente é alinhar a educação com as novas tecnologias da informação e da comunicação, não só em cenário adverso, mas como parte integral do sistema de ensino
A pandemia de Covid-19 deixou em evidência a importância da transformação digital em diferentes setores. Quem já estava inserido nesse processo conseguiu se adaptar melhor e mais rápido. No caso da educação, escolas particulares tiveram mais recursos para sair na frente em tal adequação. Mas o estado do Pará também conseguiu ajustar a realidade de seus estudantes do ensino público graças à experiência acumulada com o Sistema Educacional Interativo (SEI), iniciado em 2017 e que deu base às aulas como estão ocorrendo no atual cenário.
No dia 30 de março, o Pará foi um dos primeiros estados a anunciar que transmitiria videoaulas pela televisão, via parceria com a Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa), aos mais de 600 mil estudantes da rede estadual de ensino. As aulas também foram disponibilizadas no site da Secretaria de Educação (Seduc) e nas redes sociais do SEI. Batizado de Todos em Casa Pela Educação, o projeto compreende as séries do Ensino Fundamental e do Médio, com aulas de 60 minutos e recursos de mídia como 3D, realidade virtual, exercícios e interatividade com os professores por WhatsApp – tudo o que já havia sido testado e aprovado na metodologia do SEI. Além do material, os professores das aulas atuais também são do projeto.
O consórcio que apoiou o Sistema Educacional Interativo a se tornar realidade na Seduc Pará reúne a Agenda Pública, organização especialista em aprimoramento de serviços públicos, em conjunto com as empresas Engie (Tractebel) e Herkenhoff & Prattes (H&P), contando com recursos e apoio técnico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Implantado em 2017 como parte do Programa de Melhoria da Qualidade e Expansão da Cobertura da Educação Básica do Estado do Pará, está presente atualmente em 22 municípios e atende cerca de 3,5 mil alunos de 111 comunidades rurais.
“O serviço público passará por grandes transformações nos próximos anos. As tendências de personalização e digitalização poderão torná-los mais baratos e adequados às necessidades dos diferentes perfis e necessidades. O SEI é um bom exemplo. Por meio dele, jovens e adultos conseguiram manter uma educação regular com o que chamamos de mediação tecnológica”, diz o cientista social Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública. “Ou seja, ao invés de depender do professor ir às comunidades, as prefeituras ficavam responsáveis por ceder um espaço e levar os alunos até lá. Um professor com formação específica transmitia ao vivo explicações e tirava dúvidas, contando ainda com respaldo de mediadores”.
Cenário atual e diferentes realidades
Com a pandemia, os espaços físicos nas escolas, que foram cedidos pelos governos municipais, estão indisponíveis para aulas por tempo indeterminado. Isso obrigou os estudantes a se adaptarem à nova realidade. Vicente Barrozo, 18 anos, da comunidade Vila Pitanga, do município de Goianésia e aluno do primeiro ano do Ensino Médio, diz que justamente por participar do formato do SEI a adaptação aos estudos, mesmo com o lockdown, é mais fácil. “Achei uma ótima ideia transmitir as aulas por várias plataformas digitais. Facilita muito para lidar com esse afastamento da escola”, diz. “Sem essas aulas on-line eu perderia o ano e consigo perceber que estou aprendendo com qualidade.”
Mas ainda são necessários muitos avanços para a completa transformação digital da educação pública e para garantir a continuidade do aprendizado. Outro aluno, que se identificou apenas como Daniel, disse que adorava as aulas do SEI. Na comunidade rural onde ele mora, porém, não há acesso à internet e nem mesmo ao sinal de TV. “As aulas do SEI são ótimas, mas raramente estou acessando o conteúdo porque só venho a um local com internet uma vez por semana. Ainda assim, a internet aqui é ruim.”
Esses opostos mostram quão urgente é alinhar a educação com as tecnologias da informação e da comunicação não só em cenário adverso, mas como parte integral do sistema de ensino. “Combinada com estratégias presenciais, a transformação digital na educação é um caminho importante e possível. Para isso, além de investimento no conteúdo pedagógico e na experiência de aprendizagem, é preciso pensar em políticas públicas que cobrem acesso amplo e com bom suporte à internet”, defende Sergio, da Agenda Pública.
A professora de matemática do SEI Patrícia Feitosa, com 20 anos de docência, destaca como os alunos do interior do estado aproveitam com dedicação e empolgação todas as possibilidades de estudo que caem em suas mãos. “Não é que toda educação de agora em diante pode e deve ser pela internet. O professor em sala de aula não será substituído. Mas são muitas as ferramentas que podem ampliar possibilidades e oportunidades para as pessoas não abandonarem a escola.” A professora Elaine Azevedo, docente de LÍngua Portuguesa do SEI, concorda com Patrícia. “ Talvez seja justamente a internet um caminho para quem enfrenta uma série de outros desafios como não conseguir chegar nem à escola e nem ao espaço do SEI em período de chuva porque os rios transbordam. Com internet de qualidade em qualquer lugar, isso muda.”
O projeto do SEI começou com recursos financeiros assegurados apenas para 2017 e 2018, mas foi estendido para 2019 e 2020 graças aos resultados relevantes. Entre eles, melhoria na qualidade de infraestrutura do ensino, no atendimento dos alunos e na criação de projetos educacionais, além da maior oferta de vagas nas áreas rurais.