Em 2015, líderes mundiais assinaram um compromisso ambicioso: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda global para erradicar a pobreza, reduzir desigualdades e conter a crise climática até 2030.
Dez anos depois, no entanto, estamos muito aquém do esperado. O progresso global é alarmante: apenas 17% das metas estão no caminho certo, enquanto quase metade apresenta avanços mínimos e mais de um terço está estagnado ou em retrocesso.
A pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia e os eventos climáticos extremos intensificaram as desigualdades e agravaram as crises alimentar, energética e ambiental.
Mas se a situação é crítica, também é verdade que ainda temos um caminho viável para reverter esse cenário. A transição justa para uma economia de baixo carbono não é apenas uma necessidade ambiental – é a chave para destravar oportunidades, reduzir desigualdades e impulsionar os ODS de forma sistêmica.
No entanto, a transição para uma economia sustentável segue avançando de maneira sólida. Apesar de medidas anunciadas pela administração Trump, o novo Green Deal europeu, por exemplo, reforça a competitividade da indústria sustentável, garantindo investimentos estratégicos em inovação e descarbonização.
Além disso, taxonomias sustentáveis para investimentos estão cada vez mais robustas, reorientando capitais para setores alinhados à transição energética e criando um novo paradigma de desenvolvimento global.
ODS em risco: o que está acontecendo no mundo?
Os dados revelam um quadro preocupante:
ODS 1 (Erradicação da Pobreza): a pobreza extrema voltou a crescer, afetando milhões de pessoas, especialmente nos países mais vulneráveis.
ODS 2 (Fome Zero): a insegurança alimentar aumentou, e 600 milhões de pessoas ainda sofrerão com a fome em 2030 se não houver mudanças drásticas.
ODS 4 (Educação de Qualidade): retrocessos na aprendizagem ameaçam uma geração inteira, agravando a exclusão social e a desigualdade de renda.
ODS 13 (Ação Climática): 2023 foi o ano mais quente já registrado, com emissões de CO₂ em níveis recordes e impactos devastadores no meio ambiente.
Por outro lado, setores estratégicos mostram avanços, como o crescimento das energias renováveis (ODS 7) e da digitalização (ODS 9 e 17), mas esses avanços são insuficientes diante da magnitude dos desafios.
Os ODS no Brasil: Oportunidades e Retrocessos
No Brasil, o progresso dos ODS também tem sido desigual. Há avanços pontuais em inclusão digital (ODS 9 e 17) e cobertura de saúde materna (ODS 3), mas retrocessos preocupantes em áreas centrais.
A pobreza extrema voltou a crescer, atingindo 9,6 milhões de brasileiros em 2023. A fome aumentou drasticamente, com 33,1 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave – um salto de 73% desde 2018.
A educação também enfrenta um cenário alarmante: o desempenho dos estudantes brasileiros em matemática e leitura regrediu aos níveis de 2013, e a taxa de conclusão do ensino médio é uma das mais baixas da América Latina.
Além disso, os desafios ambientais se intensificam. As emissões de CO₂ aumentaram 12% entre 2019 e 2023, dificultando o cumprimento das metas do Acordo de Paris. O desmatamento na Amazônia, embora tenha desacelerado recentemente, ainda ultrapassa os 10.000 km² por ano, comprometendo a biodiversidade e agravando a crise climática.
Se continuarmos no ritmo atual, os avanços pretendidos pela Agenda 2030 ficarão no papel. No entanto, há uma estratégia capaz de acelerar avanços e gerar impacto positivo sobre todos os ODS: a transição justa para uma economia de baixo carbono.
A Transição Justa Como resposta sistêmica
Diante desse cenário, a transição justa para uma economia de baixo carbono é a agenda capaz de gerar impacto positivo sobre todos os ODS. Além de ser essencial para enfrentar a crise climática, essa transformação pode ser o motor de desenvolvimento sustentável e inclusão social que o mundo tanto precisa.
Geração de Oportunidades e Renda: a transição energética tem potencial para criar milhões de empregos verdes, promovendo a capacitação da força de trabalho para setores mais sustentáveis.
Competitividade e Inovação: países que investem em uma economia verde lideram a nova economia global, atraindo investimentos e impulsionando a reindustrialização sustentável.
Redução das Desigualdades: novas cadeias produtivas podem favorecer populações mais vulneráveis, descentralizando o desenvolvimento econômico e promovendo inclusão social.
Solução para a Crise Ambiental: a redução da dependência de combustíveis fósseis e o investimento em energias limpas são fundamentais para evitar um colapso climático.
O Papel da Plataforma de Transição Justa
No Brasil, a Plataforma de Transição Justa está mobilizando governos locais e setores econômicos intensivos em carbono – como petróleo, gás, siderurgia e agropecuária – para estruturar políticas que garantam que a transição energética ocorra sem deixar trabalhadores e comunidades para trás.
Esse tipo de iniciativa precisa ser ampliado e priorizado, pois representa um modelo eficaz de integração entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade.
É hora de priorizar a Economia do Futuro
O tempo está se esgotando para os ODS, mas ainda há espaço para mudar o jogo. A transição justa para uma economia de baixo carbono não é apenas uma alternativa – é a única opção realista para um futuro sustentável, socialmente inclusivo e economicamente viável.
Se quisermos reverter a trajetória atual, precisamos de um compromisso firme de governos, empresas e sociedade civil para acelerar políticas públicas, investimentos e inovação voltados para essa agenda. O Brasil, com sua matriz energética renovável e sua biodiversidade única, tem um papel estratégico nesse processo.
Os próximos seis anos serão decisivos. Ou investimos na transição justa agora, ou perderemos a chance de transformar os ODS em realidade.